Além da dor física: enxaqueca traz consequências emocionais, profissionais, sociais e financeiras

Objetivo do tratamento não é só reduzir a dor física, mas devolver qualidade de vida para o paciente

Mais do que uma simples dor de cabeça, a enxaqueca é uma condição neurológica crônica que pode comprometer diferentes esferas da vida do paciente e, por isso, o diagnóstico e tratamento precisam ocorrer de maneira precoce para evitar a progressão da doença. “O impacto vai além da dor intensa e recorrente, refletindo-se no bem-estar emocional, nas relações pessoais, na vida profissional e até nas finanças”, destaca o Dr. Tiago de Paula, neurologista especialista em Cefaleia pela Escola Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP), membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).

O médico explica que, do ponto de vista emocional, conviver com crises frequentes pode gerar ansiedade e medo constante de um novo episódio, o que limita planos e atividades diárias. “A frustração por perder momentos importantes e a sensação de falta de controle sobre o próprio corpo também estão ligadas a quadros de depressão e baixa autoestima”, comenta o especialista.

A ligação entre enxaqueca e depressão é explicada por uma combinação de fatores biológicos e emocionais. “Ambas as condições compartilham alterações em neurotransmissores como a serotonina, fundamentais para o equilíbrio do humor e para a modulação da dor. Além disso, a imprevisibilidade das crises, a intensidade dos sintomas e as limitações impostas na rotina podem gerar sentimentos de impotência, de isolamento e de frustração, que favorecem o desenvolvimento ou a piora de quadros depressivos. Trata-se, portanto, de uma relação de mão dupla: a enxaqueca aumenta o risco de depressão, enquanto a depressão pode intensificar a percepção da dor e a frequência das crises”, comenta o médico.

As consequências sociais também são significativas, segundo o médico. “Muitos pacientes evitam eventos, viagens ou encontros familiares por receio de desencadear uma crise ou por não conseguirem lidar com os sintomas em público. Para aliviar os sintomas, pessoas com enxaqueca frequentemente se retraem, procurando um ambiente escuro e silencioso, o que pode ser interpretado como um afastamento social”, destaca o médico.

A procura por esses lugares é ainda mais comum nos casos de sintomas como fotofobia (sensibilidade excessiva à luz) e fonofobia ou hiperacusia (sensibilidade a sons).

No campo profissional, a enxaqueca é uma das principais causas de absenteísmo e queda de produtividade. “Pessoas com crises frequentes podem ter dificuldade em manter o mesmo rendimento no trabalho, precisando se ausentar em função da dor, da sensibilidade à luz e ao som, ou da necessidade de repouso. Isso prejudica não apenas o desempenho individual, mas também as relações dentro da equipe”, destaca Tiago de Paula.

“A enxaqueca frequente afeta o trabalho em particularmente diversas áreas: capacidade de lembrar, redução de foco, dificuldade de tomar decisões rápidas ou fazer trabalho físico árduo”, comenta o especialista. Essas consequências podem afetar, também, o bolso, com grande impacto financeiro. “Há custos indiretos relacionados à perda de dias de trabalho e de oportunidades profissionais. Além disso, financeiramente falando, há custos diretos com consultas médicas, exames e medicamentos de uso crônico”, comenta o especialista.

Por isso, o médico reforça que a enxaqueca não deve ser vista como uma dor episódica, mas como uma condição crônica que exige diagnóstico adequado e acompanhamento contínuo.

“Quando falamos no tratamento da enxaqueca, buscamos não só reduzir a dor física, mas devolver qualidade de vida para esse paciente. O tratamento envolve o uso de medicamentos como anticorpos monoclonais Anti-CGRP, betabloqueadores, anticonvulsivantes e toxina botulínica, além de manejo no estilo de vida, principalmente com acompanhamento multidisciplinar, e afastamento de substâncias que atuam como cronificadores (chás estimulantes, café e chocolate). Atuando no controle da doença, diminuímos fortemente os impactos da enxaqueca”, finaliza o médico especialista.

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