Por Fabiano Azevedo, Formando de História, Designer Gráfico, Repórter
Já virou notícia cotidiana. Todos os dias, os noticiários estampam relatos de acidentes de trânsito em que o motorista simplesmente não para para prestar assistência. A cena se repete: um corpo estendido no asfalto, uma moto ou bicicleta caída ao lado, e o responsável pela colisão desaparecendo como se tivesse atropelado um animal qualquer. Onde está o amor ao próximo? Onde foi parar o respeito pela vida?
Apesar das inúmeras campanhas de conscientização, das duras multas aplicadas e dos veículos cada vez mais modernos, a peça principal do sistema continua falhando: o motorista. A tecnologia dos carros pode até ter evoluído com sensores, assistentes de frenagem e alertas de colisão, mas o que adianta tudo isso se quem está ao volante está mais preocupado com o celular do que com o que acontece à sua frente?
Vivemos uma epidemia silenciosa de desatenção, imprudência e desumanidade no trânsito. O respeito, que deveria ser o principal combustível da convivência nas ruas, acabou. E pior: foi substituído pela pressa, pela arrogância e pela frieza. Já não se vê compaixão. O medo de ser responsabilizado, de perder pontos na carteira ou de ser preso parece maior do que o peso de ver alguém sofrendo por um erro cometido.
O Código de Trânsito Brasileiro é claro: omitir socorro é crime. Mas a impunidade e o individualismo têm incentivado uma cultura de fuga e descaso. Quantas vidas poderiam ser salvas se o motorista tivesse apenas parado, ligado para o socorro, feito um gesto de humanidade?
Estamos falhando como sociedade quando normalizamos esse comportamento. Estamos falhando como seres humanos quando tratamos vidas como obstáculos na pista. O trânsito não é uma guerra, mas tem sido palco de batalhas diárias onde o mais forte passa por cima — literalmente — do mais frágil.
É hora de repensar. Mais do que leis, precisamos de empatia, de educação verdadeira para o trânsito, e de um pacto coletivo por respeito. A vida vale mais que qualquer atraso, que qualquer status, que qualquer multa. Mas, infelizmente, parece que muitos esqueceram disso.