É normal que o desejo sexual pelo seu parceiro diminua com o tempo? Especialistas explicam por que isso acontece na maioria dos relacionamentos duradouros.
Vontade de transar — mas não com seu parceiro
Há dois dias, vi um trecho do podcast The Diary of a CEO no Instagram. Nele, o apresentador Steven Bartlett conversa com a terapeuta de casais e psicóloga Dra. Karen Gurney sobre apatia sexual ou falta de desejo em relacionamentos amorosos — e estratégias para voltar a se conectar com seu parceiro. Uma conversa que espero nunca esquecer.
Eu também conheço bem o problema de perder o desejo sexual por parceiros de longo prazo. Nunca entendi o porquê. Uma loucura, tanto para mim quanto para meus ex-namorados. Tentamos de tudo: sexo espontâneo, encontros planejados, rapidinhas, longas preliminares, novas posições, jogos picantes, fantasias, experiências ousadas… nada adiantava.
A ideia de fazer sexo passou a me causar repulsa. Não tem outra forma de dizer. Não era porque meu desejo sexual havia desaparecido — eu ainda o tinha —, mas simplesmente não sentia mais vontade com meu parceiro. Curiosamente, meus sentimentos não tinham ido embora. Mesmo assim, transar com meu namorado parecia uma obrigação, não um prazer. Você pode imaginar o quão difícil foi. Uma situação horrível para todos os envolvidos.
Sexualidade em casal e o peso da rotina
Segundo a Dra. Karen Gurney, o problema está ligado ao desejo — e como ele pode ser despertado mesmo após anos de convivência. O erro está na nossa ideia equivocada de como o desejo funciona.
“Nossa vida íntima funciona assim: esperamos sentir vontade de transar, e só então agimos.” Mas… e se essa vontade nunca vier? Esse é um problema comum, explica a psicóloga. Hoje, sabemos que o desejo sexual não funciona assim — especialmente em relações duradouras. Uma das razões é que, quanto mais tempo convivemos com uma pessoa, mais ela se torna familiar. E quanto mais familiar, menos a enxergamos como um parceiro sexual desejável.
Mulheres, em especial, tendem a sentir o desejo por seus parceiros desaparecer mais rapidamente e de forma mais permanente. De acordo com pesquisas citadas por Gurney, muitas mulheres em relacionamentos duradouros só sentem desejo por seus companheiros uma ou duas vezes por mês — se tanto.
Mas os homens também passam por isso: deixam de achar suas parceiras sexualmente atraentes. Pense bem: aquela desconhecida do bar numa noite de verão era excitante, imprevisível. E isso bastava. Em um relacionamento longo, tudo muda. Sua parceira não é mais a figura misteriosa dos tempos de sexo selvagem. Agora ela é companheira, mãe, amiga, filha, profissional — e, junto com os bons momentos, vem o estresse, as preocupações, as inseguranças. Tudo isso afeta a vida a dois. E, com isso, vê-la raramente desperta tesão. Ainda mais com brigas sobre filhos (se houver) ou o ciclo menstrual — o que complica ainda mais.
O mesmo vale para o outro lado. Sua parceira também não vê mais você como o estranho misterioso que era no início. Agora você é alguém completo, com defeitos — o que pode ser irritante. Ou seja: quanto mais próximos ficamos, menos desejáveis podemos parecer um ao outro. Isso é natural. E ajuda a explicar por que queremos transar com o crush da academia após uma troca de olhares… mas reviramos os olhos em casa quando nosso amor tenta iniciar algo.
Devo terminar se não sinto mais desejo no meu parceiro ou parceira?
E agora? Devo terminar o relacionamento porque o desejo sumiu? Porque estamos num momento de apatia sexual? Não, responde Karen Gurney. É possível reacender o desejo — e fazer isso acontecer diversas vezes ao longo dos anos.
Mas é preciso entender que a ideia de tesão que temos — influenciada pela pornografia e pela mídia — só se aplica, para a maioria das pessoas, à fase inicial da paixão. Talvez também em relações à distância, onde o toque físico é raro. No entanto, isso não vale para quem está junto há muito tempo ou divide o mesmo teto.
Esqueça o “desejo espontâneo”. A alternativa, segundo Gurney, é o desejo reativo.
O desejo sexual precisa ser provocado
Esse tipo de desejo surge como resposta a um estímulo — e pode ser despertado intencionalmente. Pode vir de um beijo intenso. De uma mensagem como: “Você estava linda hoje de manhã. Mal posso esperar para te ver mais tarde.” Pode ser uma selfie sem camisa na academia com um “quando é que a gente faz cardio juntos?”. Pode ser um elogio sexy. Um encontro noturno. Um toque. Um domingo na cama, pelados.
Tudo isso — e é fundamental entender isso — precisa acontecer não só quando der vontade de transar, mas como parte natural e constante da relação.
“Hoje sabemos que o desejo aparece quando somos sexuais. Ele surge quando é despertado. Ações com contexto sexual geram excitação — e, em seguida, o desejo”, diz Gurney. Ou seja, exatamente o oposto do que aprendemos. E faz todo o sentido. Como esperar sentir desejo por alguém que só age de forma prática e neutra com você? Isso não dá tesão em ninguém.
Infelizmente, muitos homens esquecem que precisam continuar valorizando sua parceira — mesmo depois da conquista. E sim, vou repetir: muitas mulheres sofrem com a falta de reconhecimento. Especialmente quando o homem curte todas as fotos de influenciadoras no Instagram ou vive falando da nova estagiária do trabalho — mas não elogia mais a própria parceira em casa. A menos, claro, que ele queira transar. Aí, de repente, os elogios aparecem.
Continue sendo sexual no seu relacionamento
Mantenha a tensão erótica. Continue dando atenção ao seu parceiro. Sejam sensuais um com o outro. E, acima de tudo, divirtam-se com isso.
Fonte: Gq.globo.com