“Além de a terra estar muito seca, a água está quente e o clima não está favorecendo a produção“: este é o relato de Elias Vieira Thomaz, produtor rural do Polo Wilson Pinheiro, na Estrada Transacreana, na zona rural de Rio Branco (AC). Ele trabalha há 16 anos com produção na propriedade dele, onde produz maxixe, pepino, cebola e hortifrúti. No entanto, as dificuldades têm se acentuado à medida que o Rio Acre, principal manancial do estado, baixa.
Contexto: O rio está a menos de 15 centímetros da menor cota histórica desde 1971, quando o manancial começou a ser monitorado em Rio Branco. No sábado (24), o nível oscilou e chegou a 1,39 metro. A marca histórica de seca é de 1,25 metro, em 2 de outubro de 2022.
- 🚰 Seca: toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo para seca, agravada em razão da falta de chuvas na região. Esta situação generalizada perdura há dois meses. Já o manancial em Rio Branco se encontra abaixo de 4 metros há mais de três meses.
- ⚠️ Prejuízos: como resultado da seca, produtores perderam plantações e houve queda nas vendas. O baixo nível do manancial também afeta o transporte das mercadorias.
O produtor Elias Vieira relata que o nível do manancial influencia diretamente no desenvolvimento dos plantios, pois afeta na irrigação, no transporte dos mantimentos via terra e nas condições dos ramais.
“Você passa um dia para andar 120 km, ir e voltar. Acesso complicado. A produção vai baixando o custo dentro porque devido o custo, você tem que encarecer a sua viagem até o local”, complementa.

Elias Vieira Thomaz, produtor rural, teve que baixo nível do Rio Acre tem dificultado o transporte de hortifrúti para vender em Rio Branco — Foto: Murilo Lima/Rede Amazônica
O custo do transporte, que acaba sendo refletido nas vendas, tem sido uma realidade também da produtora rural e atacadista Ligiane da Silva. Ela é da zona rural de Acrelândia, distante 104 km da capital, e a produção dela é focada nas frutas e na produção de macaxeira por causa da goma.
“A gente tem [água] a 2 km depois da produção, vamos buscar água nos barris para conseguir jogar para ficar mais facilitado para poder tirar a macaxeira […] são uns 10 barris de 40, 50 litros mais ou menos para poder dar uma aliviada na terra, porque mesmo assim é você jogando e a terra seca do mesmo jeito. Tudo é esforço físico. A seca a gente já sabe das nossas regiões, mas esse ano tem sido muito complicado, principalmente pra gente do Ceasa”, frisou.
🚨 E a seca, que reflete na marca de 1,39 metro, segundo a Defesa Civil da capital, que monitora diariamente o manancial, se aproxima da segunda menor cota histórica e ainda deve ser superada nos próximos dias, já que a tendência é de continuar reduzindo.

Ligiane da Silva, produtora rural e atacadista, diz que vendas no Ceasa de Rio Branco tem sido mais dificultosas — Foto: Murilo Lima/Rede Amazônica
Seca reflete nos preços
Ligiane conta que há 14 anos trabalhando no Ceasa de Rio Branco, nunca viu a queda nas vendas como está presenciando desta forma. Ela não soube precisar o prejuízo, mas disse que os comerciantes fazem parcerias e barateiam os produtos para não estragarem.
Nas últimas semanas, por exemplo, chegaram cerca de 15 mil cachos de banana para os vendedores do Ceasa, e o cacho precisou ser estabelecido em R$ 5, muito abaixo do que é comumente vendido.

Rio Acre se aproxima da menor cota histórica, em Rio Branco; medição de 24 de agosto é de 1,39 metro — Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica
Produtores buscam outros meios
Maria Marlene da Silva Reis, produtora rural do Assentamento Walter Arce, no Bujari, está no Mercado Elias Mansour em Rio Branco há 15 anos. Segundo ela, a falta d’água também tem sido o maior problema enfrentado por ela. Ela capta água na Escola Cosmo Carneiro, que fica perto de onde ela mora, para poder aguar a plantação e dar para os animais beberem.
“Os meus mamões já perdem praticamente mais da metade. Tá morrendo tudo por falta d’água. As bananas também eu tô tendo uma perda muito grande. Na couve, na cebola, na pimenta, tudo isso a gente tá tendo perda. Bastante mesmo. Sem água pra irrigar, não tem como manter.“

Maria Marlene da Silva Reis, produtora rural do Walter Arce, diz que tem registrado baixa nas vendas no Mercado Elias Mansour, em Rio Branco — Foto: Murilo Lima/Rede Amazônica
O calor também reflete na falta de chuvas. Em agosto, o acumulado de chuvas em Rio Branco não passou de 1,06 milímetros. Reis complementa que como está ficando sem produção, ela não vai à feira todos os dias.
“Eu só venho quando eu tenho produção. Se eu não tiver produção, eu não venho vender. A gente trabalha na diária. A gente trabalha pra aqui, trabalha pra lá, porque eu e meu esposo, nós também trabalhamos de roçadeira. Só que a nossa diária é R$ 100 cada. A gente também não suporta o sol”, pontua.