A linha com cerol: risco que pode levar à morte no Acre

Fabiano Azevedo do Site Amazônia Agora

1. O que é cerol?

O cerol (ou linha chilena/indonésia) é uma mistura de cola com vidro moído, quartzo, óxido de alumínio ou pó de ferro, aplicada diretamente na linha de pipa para aumentar sua capacidade de corte. Isso a torna extremamente perigosa, podendo causar lesões graves — especialmente em motociclistas, ciclistas, pedestres e até aves e aeronaves

2. Por que é tão perigoso?

Motociclistas e ciclistas são os mais vulneráveis: uma linha cortante pode cortar o pescoço com profundidade, causando morte instantânea ou amputações. Há registros de cortes profundos que atingiram ossos e vísceras, além de acidentes envolvendo quedas e colisões subsequentes

3. Legislação no Acre

Lei Estadual nº 4.394 / 13 de agosto de 2024

O Acre aprovou uma legislação específica que:

  • Proíbe a fabricação, posse, venda e uso de linhas cortantes — cerol e similares — em todo o estado, exceto sob restrição explicitada.

  • Autoriza o uso apenas por maiores de 16 anos, previamente cadastrados em associações esportivas de pipas, e exclusivamente em pipódromos ou locais regulamentados pelo Poder Executivo.

Penalidades

  • Pessoa física: multa de R$ 500 a R$ 2 500; reincidência dobra o valor.

  • Comerciantes e fabricantes: multa entre R$ 2 000 e R$ 30 000, conforme porte e reincidência, com duplicação sucessiva em caso de nova infração.

  • Os valores arrecadados devem ser destinados a programas de conscientização e segurança pública.

  • A fiscalização cabe à polícia e órgãos municipais, com poder de apreender e destruir o material irregular.

Essa legislação substituiu a Lei nº 4.180, de outubro de 2023, fortalecendo as medidas repressivas e ampliando o escopo de fiscalização.

4. Casos recentes no Acre

Em menos de uma semana, ocorreram dois graves incidentes envolvendo cerol no estado:

  • 19 de julho de 2025, em Cruzeiro do Sul: Jéssica Santos, 33 anos, foi atingida no pescoço por linha com cerol enquanto pilotava uma moto e faleceu antes de receber atendimento.

  • 16 de julho de 2025, em Epitaciolândia: um motociclista sofreu corte no pescoço, escapou por pouco de uma tragédia similar, desviando instintivamente com a mão.

Esses casos reacenderam o debate escancarando a gravidade da prática mesmo após a nova lei.

5. Panorama nacional e contexto legal

  • Em outros estados, como Santa Catarina, há leis desde 2001 proibindo o uso de cerol. Em SC, houve casos de decapitação e cortes graves em motociclistas, com alertas do Corpo de Bombeiros sobre o perigo visível e real dessa prática.

  • No âmbito federal, tramita o Projeto de Lei 339/2024, que visa tipificar como crime a produção e uso de cerol, incluindo penalidades penais no Código Penal e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Também busca criar classificações específicas de crime de dano qualificado, com detenção de 1 a 3 anos e responsabilização para fabricantes, vendedores, usuários (inclusive menores).

No Código Penal vigente, sem tipificação específica, o uso de cerol pode ser enquadrado como crime de perigo à vida ou à saúde de outrem (art. 132 CP), com pena de 3 meses a 1 ano, além de outras hipóteses de lesão ou responsabilização civil.

6. Estatísticas no Acre

  • No momento, não há dados oficiais consolidados sobre o número anual de acidentes causados por cerol no Acre. Contudo, os dois episódios fatais/difíceis antes mencionados ocorreram apenas na semana de 16 a 19 de julho de 2025, evidenciando a gravidade atual da situação.

  • É provável que um registro sistemático municipal ou estadual ainda esteja em processo de implementação, especialmente com a aplicação da nova lei.

7. Recomendações e medidas preventivas

  • Fiscalização rigorosa: reforço da atuação policial e ações educativas em escolas, bairros e durante períodos de maior incidência (férias, festas juninas).

  • Uso de antenas corta‑linha em motocicletas: determinação comunitária para uso de dispositivos que ajudam a cortar ou desviar linhas suspensas

  • Educação e campanhas de conscientização: informar sobre os riscos — inclusive morte e sequelas graves — e os deveres legais.

  • Denúncias ativas: cidadãos devem reportar ao poder público locais onde há comercialização ou uso de linha cortante.

A linha com cerol é uma ameaça letal que já resultou em mortes recentes no Acre, como a de Jéssica Santos em 19 de julho de 2025. Embora existam leis estaduais (Lei nº 4.394/2024) que proíbem sua fabricação e uso, a fiscalização e conscientização ainda precisam ser intensificadas. Medidas preventivas, denúncias, educação e adesão à legislação são fundamentais para evitar novas tragédias.

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