‘Algoritmo não diferencia afeto de exploração’, diz especialista sobre risco de expor fotos de crianças nas redes

Na última quarta-feira (20), a Câmara aprovou o projeto de lei que combate a “adultização” de crianças em redes sociais. O tema ganhou destaque após um vídeo do youtuber Felca denunciar a exploração digital de crianças e adolescentes. Publicar e expor a imagem de crianças e adolescentes em redes sociais representa um perigo que precisa ser conhecido e medido, como explicou a psicóloga Nay Macedo em entrevista ao podcast O Assunto da segunda-feira (18).
“Grande parte dos adultos, familiares, escolas ou amigos vão compartilhar essas imagens com boas intenções”, diz Nay, que é especialista em proteção infanto-juvenil na era digital. Mas ela faz um alerta importante:
“O problema é que o algoritmo não diferencia o que é afeto do que é exploração. Ele só vê o engajamento. Então ele distribui mais para quem interage mais, inclusive para predadores e violadores.”
Ouça, no player acima, a partir de 32:23.
Nay Macedo explica que há “muitas evidências demonstrando que o que engaja mais [nas redes sociais] tem a ver com crianças e adolescentes”. Com isso, imagens de menores podem aparecer para mais usuários, viralizar e, com isso, chegar a potenciais abusadores.
Conteúdo autogerado
Na conversa com Victor Boyadjian no podcast, a especialista explicou também que boa parte das imagens usadas para abastecer grupos de exploração sexual infantil, além de roubos de dados e fraudes, são “conteúdo autogerado”. Mas o que isso significa?
São imagens e informações publicadas pelos próprios usuários – incluindo familiares e responsáveis por menores. Publicadas em perfis abertos, as imagens podem ser acessadas por qualquer pessoa, e chegam às mãos de criminosos.
Diante desse cenário, a conscientização é fundamental, segundo Nay. Ela reforça que, embora muitas vezes o conteúdo seja postado com boas intenções, é preciso entender os riscos e tentar minimizá-los.
Nay Macedo lista algumas recomendações:
Ao decidir postar uma foto, ter a consciência de que a exposição online não é 100% segura, mesmo em perfis fechados;
Manter perfis fechados, aceitando apenas contatos conhecidos (Nay relembra que, apesar disso, muitos agressores são conhecidos e próximos das vítimas);
Evitar postar fotos de crianças com uniformes escolares, informações de localização ou da rotina, que permitam “rastrear” os menores;
Não compartilhar imagens em trajes que possam deixar a criança vulnerável;
Explicar à criança, à medida que ela cresce, o direito dela de opinar sobre a própria imagem e respeitar a vontade do menor de idade, caso ele não queira ser exposto;
Utilizar alternativas mais seguras para o compartilhamento, como álbuns digitais fechados, mensagens diretas ou chamadas de vídeo.
Ouça a íntegra do episódio aqui.
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O Assunto é o podcast diário produzido pelo g1, disponível em todas as plataformas de áudio e no YouTube. Desde a estreia, em agosto de 2019, o podcast O Assunto soma mais de 168 milhões de downloads em todas as plataformas de áudio. No YouTube, o podcast diário do g1 soma mais de 14,2 milhões de visualizações.

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