Com Informações do Site RONDONIA AGORA
Documentos exclusivos obtidos pelo RONDONIAGORA revelam a verdadeira “farra das diárias” do governador Marcos Rocha e seu alto escalão em viagens para o exterior. Os dados não são públicos porque Rocha e seus assessores utilizam o artigo 24 e incisos da Lei 3.166, de 27 de agosto de 2013. A norma foi criada e aprovada pela Assembleia Legislativa à época para proteger o chefe do Executivo e seus familiares de ameaças à integridade física. Mas, na prática, Rocha usa a brecha de uma interpretação conveniente da lei para esconder da população informações sobre suas andanças pelo mundo.
O jornal teve acesso à Solicitação nº 196535, tramitada na Superintendência de Gestão dos Gastos Públicos Administrativos (Sugesp), feita pela coordenadora administrativa do Gabinete do Governador, Maria Auxiliadora Santos Lima, e autorizada por Fabrícia Santos da Silva, chefe de Núcleo. O documento revela os valores das diárias recebidas por Marcos Rocha e por seu secretário-chefe da Casa Militar, Valdemir Carlos de Góes, um dos poucos assessores privilegiados com viagens internacionais, para Israel, durante o conflito armado com o Irã. A solicitação foi protocolada na Sugesp às 18h15 do dia 28 de maio de 2025 e foi classificada como “grau reservado”, com base no artigo 24 da Lei Estadual 3.166.
Rocha e Góes, amigos de longa data de farda, receberam, pela viagem a Israel, R$ 96.513,74. Cada um embolsou R$ 48.256,87. Outro documento obtido pelo jornal mostra os valores das diárias de Rute Carvalho Silva Pedrosa, coordenadora geral da Secretaria Executiva do Governador, e Maricleide Lima da Fonseca, coordenadora técnica especial do governador. Cada uma embolsou outros R$ 48.256,87.
A comitiva, no entanto, não participou de nenhuma atividade oficial, já que, devido ao conflito, passou a maior parte do tempo em um alojamento estatal e em bunkers, protegendo-se dos bombardeios. Não houve gastos com hotel, e muito menos com alimentação. Até a passagem aérea de volta foi paga pelo governo israelense.
Secretário de Brasília levou mais de R$ 52 mil
As maiores diárias, no entanto, foram pagas para Augusto Leonel de Souza Marques, que atua como Secretário de Integração de Rondônia em Brasília. Ele recebeu R$ 52.725,11 para a viagem, segundo documento de solicitação.
Tour pelo mundo às custas do povo, proibido de saber a verdade
Levantamento realizado pelo jornal apontou que, durante o recesso das instituições, Rocha elevou o valor das diárias internacionais de US$ 416,00 para US$ 741,00, um aumento de quase 80%. E passou a usufruir de várias viagens, escudado na Lei do Grau Reservado.
Desde 2023, o governador já esteve na Alemanha, China, Espanha, Japão, Coreia, México, Peru e Estados Unidos (quatro vezes). Em 2024, segundo documentos oficiais da Assembleia Legislativa, visitou Londres, Argentina, Azerbaijão, voltou duas vezes aos EUA, além de Portugal e Reino Unido. Neste ano, sabe-se das viagens aos Estados Unidos em 14 de março e a Israel em junho. A julgar pelo valor das diárias, agora finalmente revelado, Rocha pode ter recebido cerca de R$ 1 milhão apenas com diárias, sem contar as passagens, que também estão sob sigilo.
Tribunal de Contas exige transparência
Os órgãos de controle identificaram o artifício de Marcos Rocha e decidiram agir. O Tribunal de Contas determinou que todas as informações relativas às viagens do governador, do vice e de seus secretários devem ser publicadas no Portal da Transparência até 23 de agosto ( https://www.rondoniagora.com/politica/tribunal-de-contas-manda-abrir-caixa-preta-das-diarias-do-governador-marcos-rocha-e-secretarios).
A situação beira o absurdo: até os dados dos assessores que acompanham Rocha são classificados como grau reservado. Nem mesmo a população pode saber quanto recebeu ou para onde foi Renan Fernandes Barreto, coordenador de Mídias e responsável por filmar e postar os vídeos do governador nas redes sociais.
Mas nas redes sociais, Rocha não se preocupa com segurança
Embora esconda os dados das viagens sob o pretexto de “segurança”, Rocha escancara seus passos no Instagram. Na ida a Israel, por exemplo, tornou-se uma espécie de correspondente da guerra, relatando o cotidiano nos bunkers e o desespero de autoridades temendo ataques. Em outras viagens, exaltou o que julga serem os benefícios de sua peregrinação diplomática. Só aos Estados Unidos foram cerca de sete viagens, na tentativa de “vender” o tambaqui, hoje alvo do tarifaço do presidente Trump, o que inviabiliza sua exportação.
E ao que tudo indica, o governador não está preocupado nem com a opinião pública, nem com os órgãos de controle. Rocha acaba de determinar a contratação de uma nova agência de viagens, elevando o contrato de R$ 2 milhões para R$ 8,6 milhões. Veja a matéria.