A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou nesta segunda-feira novas diretrizes recomendando o uso de lenacapavir injetável duas vezes ao ano como uma opção adicional de profilaxia pré-exposição (PrEP) para prevenção do HIV, em uma ação política histórica que pode ajudar a reformular a resposta global ao HIV.
O lenacapavir é a primeira terapia PrEP injetável semestral. Hoje, o esquema de PrEP disponível, inclusive no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2017, envolve comprimidos orais que precisam ser tomados diariamente. Eles também reduzem o risco de uma infecção a quase zero, porém o fato de ser um tratamento diário é um entrave para a adesão.
Em junho, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, aprovou o medicamento, vendido sob o nome comercial de Yeztugo, pela farmacêutica Gilead Sciences, como um esquema de PrEP.
“Embora uma vacina contra o HIV ainda seja incerta, o lenacapavir é a melhor opção: um antirretroviral de ação prolongada que, em ensaios clínicos, demonstrou prevenir quase todas as infecções por HIV entre pessoas em risco”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em comunicado.
“O lançamento das novas diretrizes da OMS, juntamente com a recente aprovação da FDA, marca um passo crucial na expansão do acesso a essa poderosa ferramenta. A OMS está comprometida em trabalhar com países e parceiros para garantir que essa inovação chegue às comunidades o mais rápido e seguro possível”, completou.
Embora o acesso ao lenacapavir fora dos ensaios clínicos permaneça limitado no momento, a OMS instou governos, doadores e parceiros globais de saúde a “começarem a implementar a LEN imediatamente em programas nacionais de prevenção combinada do HIV”.
As diretrizes foram divulgadas s na 13ª Conferência da Sociedade Internacional de Aids sobre Ciência do HIV, em Kigali, Ruanda.
Entenda a ação
Embora o remédio seja uma injeção para prevenir uma doença infecciosa, o lenacapavir não é uma vacina. Isso porque, assim como a PrEP em comprimidos, ele não induz o sistema imunológico a produzir defesas contra o HIV. Ele é um antiviral que bloqueia os “caminhos” que o vírus utiliza para se replicar e, para isso, precisa permanecer em constante circulação no organismo.
De forma mais detalhada, uma vacina é feita com o material genético de um vírus ou bactéria para que o sistema imune o reconheça a partir daquele fragmento e, com isso, passe a produzir anticorpos e células de defesa contra ele. Dessa forma, simula a exposição àquele agente infeccioso para gerar a resposta imune, que se mantém ao longo do tempo.
Já no caso da PrEP, é um remédio que não induz uma resposta ativa do sistema imunológico. Ele combate o vírus, sendo usado também para tratar pessoas que já vivem com a infecção. Nessa estratégia, o objetivo é manter a droga em constante circulação no sangue para, se a pessoa entrar em contato com o vírus, ela já estar presente e rapidamente atacá-lo, antes mesmo que ele se instale e cause a infecção no organismo.