Carne bovina do Brasil é um dos alvos do tarifaço de Trump
CNA e Reuters
Grandes produtores do alimentos, JBS, Marfrig e Minerva estão entre as maiores exportadoras brasileiras de carne bovina, com unidades dentro e fora do Brasil. Essa flexibilidade provavelmente fará com que essas empresas não sintam tanto o peso do tarifaço de 50% dos EUA.
Marfrig e Minerva já disseram que não dependem exclusivamente dos seus frigoríficos brasileiros para atender ao mercado norte-americano, segundo maior comprador de carne do país.
Um dia depois de Donald Trump anunciar o tarifaço de 50%, no início de julho, a Minerva divulgou para o mercado que a sobretaxa para compra de produtos brasileiros pelos EUA poderia afetar, no máximo, 5% de sua receita total.
Além do Brasil, a empresa envia produtos para os EUA pelas suas indústrias na Argentina, no Paraguai, no Uruguai e na Austrália.
Segundo a Minerva, no último ano, as exportações para os EUA representaram 16% do seu faturamento, sendo que o Brasil respondeu por apenas 30% dessa fatia.
ENTENDA: produto brasileiro pode entrar nos EUA passando por outro país?
DESAFIO: redirecionar o que não for comprado pelos EUA para novos mercados não é tão simples
A Marfrig manda carne para o país de Trump a partir de plantas no Brasil, no Uruguai e na Argentina, segundo comunicado feito para investidores no início deste mês.
A empresa informou que, em 2025, as exportações de carne bovina e processados do Brasil para os EUA representaram somente 1,4% das vendas totais da companhia na América do Sul e 0,18% de toda a operação global.
A JBS disse, na última quinta-feira (14), que ainda é cedo para estimar qual será efeito do tarifaço de 50%. Mas que não houve impacto da sobretaxa nos resultados da empresa no segundo trimestre do ano: em abril, Trump já tinha imposto uma tarifa extra de 10% sobre os produtos brasileiros; somente a partir de agosto ela passou para 50%.
“Se você olhar só para a Friboi no Brasil, no geral o impacto não é relevante. Mas, em algumas plantas específicas que exportavam mais para os EUA, talvez”, contextualizou o CEO global, Gilberto Tomazoni, durante a divulgação dos resultados.
“Mas essa é a vantagem da nossa plataforma global, que permite redirecionar a produção e mitigar bastante o impacto”, destacou.
Questionada pelo g1, a empresa não informou de quais países partem os embarques para os EUA, além do Brasil. A JBS também tem unidades no México e na Austrália, além dos EUA, onde a Marfrig também atua.
A JBS inclusive passou a negociar suas ações também na Bolsa de Nova York em junho deste ano, e anunciou novos investimentos nos EUA nesta quinta, incluindo US$ 200 milhões em plantas no Texas e no Colorado.
Indústria de carne nos EUA vive desafio
Vale lembrar que os rebanhos dos americanos estão no nível mais baixo da história, o que tem feito as compras do alimento de países estrangeiros dispararem — e o preço da carne nos EUA também.
A própria JBS prevê que a disponibilidade de gado nos EUA vai melhorar gradualmente apenas a partir do final de 2027.
Quantidade de bois no território americano ao longo dos anos.
Arte/g1
Outro fator que impacta a operação de carne bovina da JBS nos EUA, segundo a empresa, é o fechamento da fronteira com o México, em maio, devido à ocorrência da bicheira-do-Novo Mundo, um parasita.
Possíveis perdas para o Brasil
Mesmo com a possibilidade de sentirem menos o tarifaço, Marfrig e JBS têm articulado com empresas e com o governo dos EUA para livrar a carne bovina brasileira da sobretaxa, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Roberto Perosa, em evento na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no último dia 12.
Ainda que os EUA comprem um volume de carne bovina bastante inferior ao da China, maior cliente do Brasil, a associação estima que as perdas com o tarifaço para o setor podem chegar a US$ 1 bilhão em 2025.
As exportações para os EUA, que foram recordes no início do ano, começaram a cair a partir de maio, na comparação mensal, já impactadas pela sobretaxa de 10%, que começou a valer no mês anterior.
Mesmo assim, as vendas totais de carne brasileira para o exterior bateram recorde em julho, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo).
Raio X: veja dados da exportação de carne bovina brasileira
Arte / g1