sábado, maio 18, 2024
Saúde

Risco de morte precoce por jejum intermitente levanta polêmica

O jejum intermitente segue despertando polêmicas. Algumas pesquisas apontam benefícios para a estratégia alimentar, mas outros insistem nos riscos da prática.

O resumo de um estudo divulgado por nutricionistas chineses em 18/3 se alinha ao segundo grupo e aponta que, a longo prazo, os efeitos da prática alimentar podem ser graves, com maior incidência de doenças cardiovasculares e de morte precoce.

Os pacientes que faziam jejum intermitente e ficavam mais de 16h por dia sem comer apresentaram risco de morte por doença cardíaca 91% maior que os outros. Os jejuns de até 14h diárias foram associados a um aumento de 66% do risco de morte prematura. Estes números, porém, têm sido alvo de críticas.

Como foi feita a pesquisa?

O estudo foi divulgado durante um congresso da American Heart Association, mas ainda não foi publicado em versão completa. Ele analisou dados de saúde de pessoas fazendo jejum intermitente (com períodos de 12h a 20h de restrição alimentar) por um longo período: foram em média oito anos avaliando o histórico de saúde de 20 mil pacientes.

As informações estavam em um banco de dados de saúde americano. Os participantes foram divididos em grupos a partir do período de tempo que comiam ao longo do dia segundo o que haviam respondido em duas entrevistas que foram feitas previamente.

Pessoas que se alimentavam sem jejum (13 mil) foram comparadas a indivíduos que faziam jejuns divididos em três grupos: de 12h a 14h por dia (4 mil), de 14h a 16h (1,4 mil) e acima de 16h (414).

Ao longo da pesquisa, 2,7 mil participantes morreram, sendo 840 por causas cardiovasculares. Destes, 31 faziam jejuns intermitentes extremos. Entre as pessoas que não faziam jejum, 3,57% delas morreram por doenças cardiovasculares ao longo dos oito anos da pesquisa. Considerando os óbitos de indivíduos no maior nível de jejum, foram 7,48%. No grupo das pessoas que faziam jejum de até 14h, 5,49% morreram de causas cardíacas.

A pesquisa apontou que pessoas que concentravam todas suas refeições em um intervalo de apenas 8h diárias tinham um maior risco de morte cardiovascular quando eram comparadas às demais.

“As descobertas do nosso estudo incentivam uma abordagem mais cautelosa e personalizada sobre as recomendações dietéticas de restrição”, explicou o epidemiologista Victor Zhong, da Universidade Jiao Tong de Xangai, em comunicado à imprensa.

Críticas ao estudo

O trabalho tem sido alvo de polêmicas desde que foi divulgado. Como ele ainda não foi publicado em revista científica, só o resumo está disponível e, por isso, ele não foi revisado por outros cientistas que confirmem seus dados.

Além disso, o estudo foi apenas observacional. Não se sabe exatamente como ocorreu a correlação entre doenças cardíacas e o jejum intermitente e as conexões são apenas sugeridas.

Em uma nota publicada no dia 22 de março, a British Heart Foundation (BHF) se posicionou contra os resultados do levantamento. “Uma grande limitação desta pesquisa é que os participantes só foram questionados sobre o que comeram duas vezes. Não sabemos se eles continuaram com estes hábitos alimentares durante o período do estudo”, indicou.

Os representantes da associação também criticaram o fato de que não foram traçados perfis sociais que diferenciem as dietas: não se sabe se os indivíduos ficaram muito tempo sem comer por necessidade ou por escolha, o que impacta diretamente a saúde.

“Este estudo parece ir contra o que pesquisas anteriores sugeriram sobre os benefícios a curto prazo do jejum intermitente e, portanto, são necessários mais levantamentos nesta área”, apontou a BHF.

O que os pesquisadores dizem que explica a conexão?

A pesquisa chinesa apontou que há uma menor massa magra em pessoas que adotam a dieta restritiva. A baixa quantidade de músculos já foi apontada em estudos anteriores como um fator de risco para mortalidade cardiovascular. A partir desta revisão da literatura, os pesquisadores apontaram uma causa e efeito entre ficar sem comer e ter problemas cardíacos.

Para os cientistas, a investigação parece indicar que mais importante que focar nos intervalos entre as refeições seria orientar os pacientes a escolher alimentos saudáveis para compor a dieta.

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