Você é daqueles que passam um bom tempo enrolando na cama depois de acordar? Pois esta prática, que muitos chamam de procrastinar, foi batizada de “bed rotting”, algo como “apodrecimento na cama”.
A expressão foi difundida pela geração Z em um dos seus habitats naturais, as redes sociais, é claro. A trend acumula mais de 76 milhões de visualizações no TikTok e é propagada como uma prática de “autocuidado”, mesmo sem ter comprovação científica alguma. Pelo contrário, segundo André Felipe Martins, psiquiatra do Hospital Albert Einstein, pode desregular a rotina e até piorar sintomas de ansiedade ou depressão.
Entendendo a trend
O bed rotting consiste, basicamente, em passar mais tempo na cama mexendo no celular, assistindo à televisão, comendo ou fazendo nada: qualquer coisa que distraia a mente das tarefas ou de problemas.
A geração Z, nascidos entre 1995 e 2010, defendem a estratégia como um momento de autocuidado que ajuda a aliviar o estresse e a “recarregar as baterias”. Vale lembrar que, segundo o relatório da Betterfly de 2022, este é o grupo mais afetado por quadros de burnout — considerada, desde 2022, uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A trend “bed rotting” consiste em passar mais tempo na cama mexendo no celular ou simplesmente não fazendo nada — Foto: Pexels
De acordo com a pesquisa, os entrevistados desta faixa etária relatam sentimento de exaustão, falta de reconhecimento e perspectiva profissional, impactando diretamente no bem-estar e levando a comportamentos nocivos, como a procrastinação.
Ao contrário dos baby boomers, geração X e millennials, que são extremamente workaholics, os gen Z precisam enxergar um propósito no que fazem, e é exatamente essa falta de estímulo que pode levar a quadros ansiosos.
“Atualmente, as pessoas têm mais percepção de que o trabalho excessivo pode levar ao sofrimento, como em casos de burnout. O bed rotting vem como uma resposta a isso, porém sem embasamento científico”, esclarece o psiquiatra.
Prejuízos do bed rotting e cuidados psicológicos
Primeiramente, é preciso lembrar que o nosso organismo é influenciado por fatores externos, como os períodos claro (dia) e escuro (noite). Esse mecanismo é chamado de ciclo circadiano e, quando não respeitado, pode provocar alterações das funções fisiológicas e queda na produção de vitaminas como a B6, B12 e D – essencial para imunidade e absorção de cálcio, por exemplo.
O bed rotting pode até dar essa sensação de descanso e relaxamento se feito esporadicamente, mas, como dito anteriormente, pode interferir na rotina de tarefas e no sono, desencadeando outros problemas de saúde. Entre as consequências mais preocupantes, o médico lista:
- Inversão do ciclo sono-vigília, “quando o indivíduo dorme durante o dia e fica acordado à noite”.
- Desregular padrões alimentares, “contribuindo para alteração de peso, procura por alimentos menos saudáveis e o sedentarismo”.
- Apresentar piora de sintomas de ansiedade e depressão.

Entre as consequência do bed rotting está a alteração do ciclo do sono, hábitos alimentares e da rotina — Foto: Pexels
É preciso entender que hábitos como esse podem estar camuflando questões emocionais mais graves. Por isso, ao invés de se arriscar em trends sem comprovação científica, o psiquiatra sugere outra saída:
Além destes cuidados, as atividades físicas estão sempre aí como um método preventivo para várias doenças, alívio dos níveis de estresse e outras questões emocionais. É fazendo exercícios (e não enrolando na cama) que hormônios como dopamina e endorfina são liberados, causando uma sensação de bem-estar:
“É bem estabelecido cientificamente que hábitos como praticar exercícios físicos, manter uma alimentação saudável e ter um padrão de sono regular são eficientes para prevenir e tratar ansiedade e depressão”, finaliza o médico.