“Segunda-feira eu começo!” Quem nunca disparou essa frase prometendo iniciar uma dieta, ir à academia, fazer um novo curso ou realizar aquela tarefa do trabalho, né? Pois saiba que esse comportamento tem nome, causa e consequências sérias: procrastinação.
“É o ato de postergar, intencionalmente, uma tarefa, substituindo-a por outras atividades menos importantes ou agradáveis”, explica a psiquiatra Jessica Martani, especialista em comportamento humano. Ao gshow, ela comenta como o vício pode surgir na vida das pessoas e lista dicas práticas para adotar no dia a dia.
Quais são as causas da procrastinação?
Segundo ela, existem várias razões pelas quais as pessoas desenvolvem o hábito de adiar algumas tarefas, “como a busca por prazer imediato em detrimento de recompensas futuras”. Além disso, outros fatores psicológicos também podem contribuir com o vício: “A falta de motivação, medo do fracasso ou perfeccionismo, dificuldade de controle de impulsos, estresse, sobrecarga e doenças emocionais como depressão e TDAH.”
Mas a médica destaca que nem toda “preguiça ocasional” pode ser considerada procrastinação. Enquanto o primeiro pode ser apenas um leve desleixo ou displicência, o procrastinador tem “consciência da necessidade de realizar uma tarefa e, ainda assim, escolher adiar sua conclusão.”

Procrastinação pode estar relacionada à qualidade de vida ou até a distúrbios mentais — Foto: Freepik
Mais uma vez, a internet se mostra como um dos vilões neste caso, já que oferece “recompensas” imediatas ou a curto prazo, como uma compra online, uma curtida nas redes sociais ou passar de fase naquele joguinho do celular. Jessica explica que estímulos como estes “desacostumam” o cérebro a fazer atividades que são menos simples e só trazem recompensa posterior, às vezes em um prazo indeterminado, dependendo da situação.
“O excesso de atividades dopaminérgicas – que influenciam diretamente nas emoções –, como aplicativos, redes sociais e jogos de videogame podem desempenhar um papel importante na procrastinação, pois distraem e consomem um tempo que poderia ser usado para tarefas importantes.”
Tipos de procrastinadores
O ato tem diversas causas e sintomas que podem estar ligados a distúrbios mentais ou à qualidade de vida de cada indivíduo. Portanto, especialistas observam que a procrastinação acontece de maneiras diferentes. A psiquiatra destaca aqui quatro perfis comuns:
- Procrastinadores crônicos: pessoas com dificuldade de gerenciar o tempo e que protelam, sistematicamente, a conclusão de tarefas importantes.
- Procrastinadores por prazer: aqueles que deixam as tarefas para o último minuto, acreditando que funcionam melhor sob pressão.
- Procrastinadores evitativos: pessoas que evitam tarefas por medo do fracasso, ansiedade ou falta de autoconfiança.
- Procrastinadores indecisos: indivíduos que têm dificuldade de tomar decisões e, por isso, acabam adiando ações relacionadas a estas situações.
Consequências

O ato de procrastinar pode trazer problemas para a saúde e vida social, mas especialista explica como romper o ciclo — Foto: Unsplash
Muita gente não encara esse hábito como algo sério, mas a psiquiatra defende que a procrastinação pode, sim, trazer problemas para a saúde ou até socialmente, já que o constante atraso de entregas no trabalho ou escola, por exemplo, podem gerar prejuízos econômicos e educacionais.
“O fato de não conseguir produzir algo pode levar a um estresse crônico, além de prejuízos na vida pessoal e ocupacional”, exemplifica a médica. Ela também lista a “sensação de inutilidade, de culpa, de alteração de autoimagem e de inadequação” como outros efeitos no dia a dia dos procrastinadores.
Como vencer esse vício?
- Defina metas realistas: estabeleça objetivos claros e mensuráveis para cada tarefa e determine prazos para concluí-los.
- Comece aos poucos: lembre-se de que não adianta fazer uma lista infinita de tarefas para um único dia. Além de ser impraticável, isso pode gerar uma frustração desde o começo.
- Crie um plano de ação: divida as tarefas em etapas menores e crie um plano detalhado para executá-las.
- Elimine distrações: procure fazer suas tarefas em locais com objetos ou pessoas que possam tirar o seu foco, como redes sociais, jogos eletrônicos e ambientes barulhentos. Vale, ainda, diminuir o tempo de telas para não arriscar se perder no mar de conteúdos da internet!
- Por último, Jessica ressalta que, para casos mais graves, a terapia pode ser uma opção mais eficaz para tratar a procrastinação. Um especialista vai conseguir investigar e identificar as causas subjacentes deste comportamento para romper com esse ciclo, ou ao menos minimizá-lo.
“[O terapeuta] pode identificar padrões de pensamento negativos, crenças limitantes ou medo do fracasso. Além disso, estratégias e técnicas específicas podem ser exploradas, como o estabelecimento de metas reais, a quebra de tarefas em partes menores, o desenvolvimento de habilidades de autorregulação emocional e a modificação de padrões de pensamento disfuncionais.”