É possível adiar a chegada da menopausa? Para muitas mulheres, essa possibilidade seria um ganho importante, principalmente com a oportunidade de retardar os sintomas que envolvem, em maior e menor intensidade, ondas de calor, alterações cognitivas, sintomas urogenitais, fadiga e alterações de humor, conforme lista o ginecologista Igor Padovesi, membro da North American Menopause Society (NAMS) e da International Menopause Society (IMS).
Pesquisadores estão na busca por soluções para que seja possível adiar a menopausa através de técnicas consideradas “revolucionárias”, mas também vistas com algumas ressalvas. Um estudo recente trouxe sinais de que há avanços nessas pesquisas.
“É possível retardar a menopausa, mas isso é raro de acontecer ainda. Na Inglaterra, existem algumas clínicas que fazem o reimplante, o transplante de folículo ovariano. É retirada uma parte do ovário, do tecido ovariano onde estão os folículos. Ela é congelada e, no início da menopausa, é reimplantada nesse ovário que está iniciando uma atrofia. E aí ocorre um adiamento dessa menopausa”, explica a endocrinologista Deborah Beranger, pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).
A especialista ressalta que a evolução dos sintomas pode variar de acordo com cada paciente e que a eficácia da técnica não é cem por cento garantida. “É muito individualizado. E essa questão da técnica da Inglaterra é algo específico que não funciona com todas as pacientes, embora seja revolucionário. Então não dá para apostar todas as fichas”, explica ao gshow.
O uso de chás e suplementos ajudam a amenizar os sintomas da menopausa?

É possível retardar a menopausa? Entenda o que é mito e o que é verdade — Foto: Freepik
Para o ginecologista, a melhor recomendação é o tratamento direcionado para cada um dos sintomas. “Para algumas mulheres, podem ter estratégias que passam por mudanças de hábitos. Mas é importante dizer que a eficácia de suplementos e chás é muito baixa, nos estudos é comparável ao placebo”, afirma.
De acordo com o Padovesi, todo o medicamento, quando testado, é comparado com placebo. E o grupo placebo, em torno de 10%, 20% e até 30%, pode melhorar: “E a melhora que se observa com esses remédios naturais, suplementos e chás, é muito parecida com isso.”
Os produtos naturais e alguns tipos de suplementos podem até ser aliados em amenizar alguns sintomas, mas os especialistas garantem que nenhuma dessas estratégias vai retardar a menopausa.
“Não existe nenhum chá ou suplemento que comprovadamente retarde a menopausa ou que atue nesse sentido. Nem chá, nem medicação fitoterápica ou alopática, nenhuma medida revolucionária. E não tem como afirmarmos se a paciente precisará de reposição hormonal ou não, se apresentará sintomas de menopausa ou não”, acrescenta a endocrinologista.
Entenda a relação dos carboidratos e açúcar refinado com a menopausa
Estudos realizados na Universidade de Leeds, na Inglaterra, mostram que as mulheres que consomem mais peixe e mais legumes ao longo da vida conseguem adiar a menopausa de dois a três anos.
“E, além disso, mesmo entrando em menopausa, elas têm menos sintomas, menos ondas de calor. Então, é possível concluir que isso está relacionado a uma alimentação rica em ômega 3 e antioxidantes. Em contrapartida, uma dieta rica em carboidrato antecipa a menopausa de um a dois anos”, destaca a Dra. Beranger.
Isso significa que um estilo de vida mais saudável, incluindo uma alimentação com menos gorduras saturadas e menos açúcar refinado resulta em uma qualidade de vida melhor: “Uma menopausa com menos sintomas e, com certeza, menor necessidade de medicações no futuro.”
Mudança de hábitos, atividade física regular, melhora na alimentação, redução de estresse e melhora do sono são algumas das medidas indicadas pelo ginecologista.
Ginecologista defende o tratamento com terapia hormonal como mais eficaz

É possível retardar a menopausa? Entenda o que é mito e o que é verdade — Foto: Freepik
Ainda que haja um tabu em torno do tratamento com terapia hormonal, muitos médicos defendem como caminho mais eficaz. “O recomendado é que o tratamento seja direcionado para parar os sintomas, mas o mais importante de tudo é a terapia hormonal. Hoje em dia é diferente do que se fazia no passado”, esclarece o ginecologista.
Segundo o Dr. Padovesi, são usados, preferencialmente, os hormônios bioidênticos por alguma via não oral, que não sejam ingeridos na forma de comprimido ou de cápsula. “Existe uma ampla evidência científica, da melhor qualidade possível, de que a terapia hormonal é muito mais benéfica para a grande maioria das mulheres”, afirma.
As restrições e contraindicações para a terapia hormonal são poucas: “Hoje em dia, as mulheres vivem muito. Com o aumento da expectativa de vida para até 80 anos, a mulher vai passar quase metade da vida na menopausa, considerando que os sintomas da perimenopausa costumam começar a partir dos 40 anos.”
O que é comprovado e escrito nos consensos, ressalta o especialista, é a terapia hormonal: “E deve começar já na transição menopausal, no início dos sintomas, que para a maioria das mulheres vai ser perto dos 40 ou 45 anos. É o tratamento padrão recomendado e realmente efetivo para esses sintomas.”
Os sintomas da transição menopausal podem começar a aparecer de cinco até dez anos antes da menopausa. “É importante conscientizar as mulheres. O que interfere na idade da menopausa são fatores individuais e genéticos, há uma variação considerada normal na população. A terapia hormonal melhora os sintomas, aumenta a qualidade de vida, a expectativa de vida e reduz risco cardiovascular”, reforça o médico.