O que os casais Luisa Arraes e Caio Blat, Astrid Fontenelle e Fausto Franco, Totia Meireles e Jaime Rabacov e Carolina Dieckmann e Tiago Worcman têm em comum? Todos eles decidiram continuar morando separadamente após o casamento.
Além deles, os gringos Gwyneth Paltrow e Brad Falchuk e Ashley Graham e Justin Ervin também levaram um tempinho, após o casamento, para juntarem as escovas de dente. Recentemente, Jada Pinkett Smith também anunciou que ela e Will Smith estão secretamente separados há sete anos, mas nunca seguiram adiante com o divórcio.
Um efeito da pandemia?
Para a psiquiatra Nina Ferreira, este período de quarentena intensificou todo tipo de convívio, inclusive, nas relações amorosas e seus conflitos. Com o fim das restrições, morar separado veio como um artifício para contornar estes problemas que alguns casais enfrentaram.
“Acho que, na verdade, a pandemia foi um fator que facilitou a percepção dos conflitos nas relações. Agora, essa tendência de comportamento é muito complexa e individual, pode ter várias raízes, mas a principal, no meu olhar técnico, é a intolerância das pessoas em ver as diferenças.”
Portanto, a médica acredita que esta estratégia seja usada também como forma de driblar as frustrações e não ter de lidar com elas. Mas não tem certo ou errado: ela deixa claro que “cada pessoa é livre para lidar da forma que decidir”, apesar de também ver estas diferenças como “uma oportunidade incrível de nos conhecermos melhor, crescer por dentro, aprender e ampliar as nossas ferramentas para lidar com a vida.”
O que motiva o relacionamento à distância?
E estes casais famosos estão longe de serem os únicos adeptos! Após a pandemia, este movimento se tornou cada vez mais comum e os motivos variam entre questões profissionais, financeiras, familiares e tem até quem não abre mão de sua individualidade e estilo de vida.
Foi esta primeira razão, inclusive, que levou a influenciadora Larissa Cunegundes e o namorado a viverem uma relação à distância. Juntos há 10 anos, eles passaram 4 deles morando a cerca de 1000 km de distância um do outro, até que ela deixou Brasília para morar em São Paulo.
Em 2020, com a pandemia, eles decidiram morar juntos. O período durou cerca de três meses, até ele passar em um mestrado… Em Portugal! Ela seguiu na terra da garoa, a distância multiplicou e a frequência de visitas passou de duas vezes ao mês para um intervalo de meses.
“Moramos juntos por uns dois ou três meses e a gente se deu super bem e nosso relacionamento fortaleceu muito mais do que o esperado! […] Assim que liberaram as fronteiras [após a pandemia em 2020], eu fui para Lisboa, a gente se viu e foi ótimo. Aí a frequência mudou um pouco, né? O ideal é a gente se ver de três em três meses, mas normalmente é de seis em seis.”

Psiquiatra afirma que a pandemia intensificou os conflitos e diferenças entre os casais — Foto: Pexels
Larissa também comenta que a questão da “individualidade é bem forte” para eles. São duas pessoas que amam a companhia um do outro, mas também amam ter seus próprios espaços e momentos com os amigos. Isso não quer dizer que não existam conflitos!
“Eles podem até diminuir, mas a gente acaba entrando em outros conflitos sobre relação à distância e tudo mais. Só que a gente tem uma qualidade, na questão da individualidade, muito mais saudável que qualquer outro relacionamento. Eu vejo que essas pessoas acabam entrando muito um na vida do outro. Acaba que você não consegue fazer as suas coisas sozinha… E a gente consegue respeitar o espaço um do outro e acho que a distância acabou fortalecendo a nossa individualidade.”
No caso da social media Nathália Rodrigues, a parte financeira é que está sendo um obstáculo para que ela e o marido dividam o teto. O casal, que se conheceu logo após a pandemia, ficou desempregado na época do casamento.
“Nosso plano era alugar um local, agora queremos comprar nosso espaço, mas a alta imobiliária impacta diretamente nisso.”
Se por um lado, Larissa diz lidar bem com a situação e sempre apoiaram a individualidade e desejos um do outro, Nathália não vê a hora de poder acordar ao lado do mozão!
“Olha é esquisito. Muitas pessoas dizem que, atualmente, o casamento perdeu a validade por ter outra coisa que assegura, como união estável, mas não concordo. Não vejo a hora de comprar meu apartamento, mas, por hora, sou uma pessoa casada que nunca morou junto [com o parceiro]”, ela brinca.
Ao mencionar para as pessoas que não mora com o marido, Nathália também percebe um certo estranhamento por parte delas, o que já resultou em falas como “ah, então vocês não se casaram”. Assim como não há fórmula pronta para uma carreira de sucesso, não existe roteiro para um casamento feliz.
“As pessoas têm o direito e a liberdade de escolher o que elas querem enfrentar naquele momento e, muitas vezes, as pessoas não estão preparadas emocionalmente para enfrentar essas diferenças”, destaca a psiquiatra.

Pessoas que vivem relacionamento à distância ou vivem separadas comentam suas experiências — Foto: Unsplash
Larissa também conta que as pessoas reagem à informação com “surpresa”, apesar de não tocar muito no assunto. Algumas das primeiras perguntas que estes casais recebem são sempre “como vocês conseguem?” ou “você não tem medo de traição?”. Mas, no fim das contas, a influenciadora diz que o respeito entre eles pesa mais na balança, apesar de não descartar morarem juntos um dia.
“Eu acho que é muito importante respeitar a individualidade e os desejos de cada pessoa, porque todo mundo tem os seus sonhos e a gente também tem sonhos em comum. Eu não penso ficar o resto da minha vida namorando à distância, mas a gente acabou achando esse estilo de relacionamento e, nesse momento, é o que está acontecendo. A gente pretende, futuramente, morar junto ou, por exemplo, passar seis meses lá e ele seis meses aqui, por termos essa flexibilidade em relação ao nosso trabalho.”
A quem interessar possa…
Para quem está cogitando ou já pensou em tentar esta experiência com o parceiro, Nina Ferreira deixa algumas orientações para evitar conflitos, frustrações e fazer tudo da forma mais leve possível.
- Como em qualquer relacionamento, o diálogo é essencial: é preciso falar e ouvir o que o outro tem a dizer!
- Conversar sobre as “regras” dessa nova forma de se relacionar e com qual frequência esses contatos vão ser feitos.
- “O que determina um relacionamento conjugal é a troca de afeto”, ela afirma. Portanto, com a distância, o casal deve discutir sobre estas trocas e se isso vai ser algo incomoda um dos dois.
- Cada um tem seu trabalho, amigos, família e demandas diferentes e isso tudo também precisa ficar claro: “Em quais momentos e quando podem ser abertas exceções e como esse casal vai continuar se nutrindo emocionalmente, mesmo morando separado. Essa nutrição afetiva é a base para que qualquer relação funcione.”