Um crime brutal chocou a capital amazonense na manhã da última sexta-feira (28/2), quando o corpo esquartejado de Ivan Carlos Lopes Pereira foi encontrado em um lixão na zona leste da cidade. Identificado pela Polícia Civil do Amazonas (PC-AM), Ivan era um ex-gerente de concessionária e líder de um esquema criminoso que desviou 34 veículos, causando um prejuízo estimado em R$ 5,4 milhões. Mas as investigações apontam que seu rastro de fraudes pode ser ainda maior, com suspeitas de envolvimento no desaparecimento de cerca de 140 carros e golpes que ultrapassam R$ 20 milhões.
O corpo de Ivan foi descoberto no ramal Heineken, na rua Encontro das Águas, bairro Puraquequara, em um cenário macabro que sugere acerto de contas. Desmembrado e abandonado em meio ao lixo, o cadáver foi reconhecido por peritos após dias de buscas intensas pela PC-AM, que já o considerava foragido desde a deflagração da Operação Proditores, em fevereiro. A operação desmantelou parte do grupo que ele liderava, resultando na prisão de dois comparsas, Gaio Ribeiro Farias e Murilo de Oliveira Maquiné, mas Ivan seguia desaparecido – até agora. O esquema milionário Ivan Carlos Lopes Pereira construiu uma reputação sombria no mercado de veículos em Manaus. Ex-gerente de uma concessionária renomada, ele se desvinculou da empresa e fundou a Aguiar Veículos, uma loja que, segundo a polícia, servia de fachada para revender carros furtados.
Junto a ex-funcionários recrutados da antiga empregadora, Ivan orquestrou um esquema sofisticado: falsificava registros de entrada e saída de veículos, manipulava inventários e auditorias mensais e desviava automóveis para sua própria operação. Entre as vítimas estão a concessionária original, uma locadora e até clientes que entregavam carros como parte de negociações para adquirir novos modelos. A fraude veio à tona em julho de 2024, quando a concessionária percebeu o sumiço de 10 veículos durante uma auditoria. Após denúncias e novos levantamentos, o número subiu para 34 carros subtraídos, totalizando R$ 5,4 milhões em prejuízo – valor que, segundo o delegado Rodrigo Barreto, da Delegacia Especializada em Roubos e Furtos de Veículos (DERFV), é apenas a ponta do iceberg.
“Ivan movimentou cerca de R$ 2 milhões em seis meses, incompatíveis com sua renda, e começou a fraudar financiamentos bancários em nome de terceiros”, revelou Barreto durante a Operação Proditores. Estima-se que o impacto total de suas ações supere os R$ 20 milhões, afetando dezenas de vítimas. Com mais de 60 Boletins de Ocorrência (BOs) registrados contra ele, Ivan era um dos criminosos mais procurados na região. A PC-AM chegou a bloquear suas contas bancárias e expediu um mandado de prisão, mas ele conseguiu escapar do cerco policial – até encontrar um destino trágico que, para muitos, carrega a marca de uma vingança. Um fim violento A descoberta do corpo esquartejado levanta hipóteses entre os investigadores. A brutalidade do crime sugere que Ivan pode ter sido alvo de pessoas ligadas às suas próprias vítimas ou de rivais no submundo do crime. “O esquartejamento não é algo comum. É um recado, uma execução planejada”, afirmou uma fonte da polícia que preferiu não se identificar.
A localização do corpo, em um lixão isolado, reforça a teoria de que os responsáveis queriam dificultar a identificação. A DERFV segue apurando o caso, mas ainda não há pistas concretas sobre os autores do assassinato. Enquanto isso, a morte de Ivan encerra um capítulo de sua trajetória criminosa, mas deixa perguntas em aberto: quantas vítimas ainda desconhecem os golpes? E até onde ia a rede de corrupção que ele comandava? Alerta às autoridades A Operação Proditores, deflagrada em 24 de fevereiro, já havia colocado a PC-AM no encalço do grupo. Na ocasião, o delegado-geral adjunto Guilherme Torres destacou a gravidade do esquema: “Além do prejuízo para a concessionária, muitas pessoas compraram os veículos sem saber da fraude”. Agora, com a morte de Ivan, a polícia intensifica os esforços para localizar outros envolvidos e recuperar os carros desaparecidos.