Registro raro: duelo de cobras, numa espécie de dança, para ver quem acasala com a fêmea

Uma cena muito difícil de ser vista – e mais ainda de ser gravada – foi capturada pela visitante do Parque Nacional da Tijuca, Vivian Telles, durante um passeio que ela realizou nos últimos dias. Com a ajuda de um celular, ela gravou, a distância, um duelo entre dois machos de uma serpente conhecida como cobra-cipó, do gênero Chironius sp.

O que ela conseguiu mostrar, na verdade, parece mais uma bela dança coreografada do que um duelo em si. Porém, ela nem imaginava que estava guardando um registro belíssimo de uma disputa para ver qual dos dois machos teria a oportunidade de acasalar com a fêmea, que, apesar de não aparecer no vídeo, estava próxima e foi a responsável por liberar feromônios que atraíram os dois “cavalheiros” para o duelo.

Para entender melhor a importância da cena, a coluna conversou com o biólogo do Instituto Vital Brazil e criador do canal Papo de Cobra, Claudio Machado. De acordo com o especialista, que tem 20 anos de experiência no serpentário da instituição, é difícil de acompanhar um combate desses até em cativeiros.

“É uma cena rara mesmo de ser registrada, especialmente na natureza. Para além da curiosidade, é uma gravação essencial para a evolução dos estudos sobre a reprodução de serpentes no Brasil. Com certeza vai ajudar os pesquisadores dessa área a encontrar respostas para perguntas que ainda não temos”, afirma Claudio.

De acordo com o biólogo, o outono é a época de acasalamento entre as serpentes e por isso é comum esse tipo de comportamento acontecer, com o objetivo de que os filhotes nasçam na primavera/verão. Neste combate, o vencedor é definido pela postura e não por ferimentos: ganha o direito de reproduzir a espécie e passar seus genes adiante aquele que consegue baixar a cabeça do outro até o cansaço prevalecer. Neste contexto, o vídeo, que tem pouco mais de quatro minutos, funciona como uma prova a ser analisada pelos especialistas para entender, por exemplo, quanto tempo esse fenômeno pode durar.

“Hoje, algumas das perguntas que não temos como responder, por exemplo, é o tempo de duração desse confronto na natureza, porque quase não temos material para estudar. O que sabemos é que o perdedor, honrosamente se retira, e o ganhador ainda tem que passar pelo crivo da fêmea, que pode ou não aceitá-lo”, detalha Machado.

As cobras-cipós são fundamentais no controle biológico de pragas, pois se alimentam de bichos que poderiam se reproduzir descontroladamente. Em média, as cipós têm cerca de 1,5 metro de comprimento. Diferente de outras serpentes, que são mais ativas à noite, elas têm hábitos apenas diurnos, além de viverem tanto no chão quanto na copa das árvores. Para a tranquilidade de todos, elas não são peçonhentas e se alimentam basicamente de anfíbios. Na natureza, seu tempo de vida é difícil de estimar, mas, em cativeiros, elas pode chegar a 10 anos.

https://oglobo.globo.com/video/cobras-fazem-duelam-por-femea-12551660.ghtml

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *